Matéria publicada em 20 de maio de 2018.
A iniciação esportiva, na maioria das vezes, acontece na escola, ainda no ensino fundamental, durante as aulas de educação física. É durante as aulas dessa disciplina que as crianças e adolescentes entram em contato e descobrem muitos desportos, como é o caso do handebol. Aliás, são nos colégios que a maioria dos atletas começam suas formações. O esporte nas escolas não apenas formam jogadores, auxiliam na manutenção da saúde dos alunos e desenvolvem cidadãos melhores.
De acordo com os dados divulgados pelo Censo Escolar 2017, o Brasil conta com 131,6 mil escolas que oferecem alguma etapa do ensino fundamental. Sendo que os municípios são responsáveis por 47,2% dessas escolas. Entre toda a estrutura física, os esportes e atividades físicas precisam de espaço para serem realizadas. Conforme mostra a pesquisa, a média de colégios brasileiros com pátio coberto ou descoberto é de 67,5%, enquanto as quadras desportivas abertas ou cobertas estão presentes em apenas 41,2% das instituições de ensino.
Desde 2004, a professora de educação física, Virgínia Wolffenbuttel desenvolve no Colégio Estadual Mariz e Barros, em Porto Alegre (RS), os times de handebol Jovens Talentos, com treinos realizados das 12h às 13h. Tanto os treinos tantos as aulas de educação física são realizados na quadra aberta, único espaço voltado a prática física na instituição. Em dias de chuvas não é possível ter aulas e nos dias de calor é preciso manter os atletas/alunos sempre hidratados.
Apesar de o espaço não ser o melhor, Virgínia contou que:
“Nós possuímos uma quadra de dimensões suficientes para o trabalho. Não é oficial para o handebol, mas conseguimos desenvolver o trabalho adequadamente. Minha Direção é muito parceira e sempre nos forneceu material.”
A importância dos professores no desenvolvimento emocional dos alunos
A educação física é a segunda disciplina que mais tem professores formados na área e com licenciatura ou complementação pedagógica, nos anos finais do ensino fundamental (do 6º a 9º ano).
Sedamar Marques, educadora e analista em inteligência emocional, explicou que a formação do profissional de educação física é importante, pois é ele que ajuda os alunos a fortalecer a autoestima e auxiliam no desenvolvimento emocional e psicomotor.
Virgínia completou:
“uma boa condução nas aulas de educação física pode ser determinante no futuro destes adultos, tornando-se ativos ou sedentários. O professor de Educação Física tem um importante papel no futuro dos adultos que estão formando. Cada vez mais nossos jovens estão parados dentro de casa, presos a uma tela de celular ou computador. Isto já está trazendo consequências para a saúde de diversas formas”.
A educação física: disciplina que amplia as habilidades motoras, psicológicas e cognitivas individuais
“O esporte aumenta e amplia as habilidades do indivíduo”, salientou Samadar. A educadora contou que a atividade física na infância não apenas desenvolve o físico e o motor, mas cria uma integração entre o social e o psicológico. Além disso, ela vai expandir essas habilidades para o resto da vida.
De acordo com Semadar, a prática esportiva auxilia, também, no fortalecimento da autoestima. Ela relatou que, por exemplo, um aluno que sofre bulling sofre demais, tem sua autoestima atingida. “O esporte faz com que ele se sinta forte, que é capaz e vê no esporte a possibilidade para se superar”.
A treinadora do Jovens Talentos concorda:
“Nosso mundo começa no próprio corpo. Nos relacionamos melhor com o mundo quando nosso corpo está saudável. Precisamos ter uma propriocepção adequada para que seja possível ter um bom relacionamento com o mundo que nos circunda”.
O cognitivo também sai ganhando com a prática desportiva na infância e na adolescência. Samadar explicou que o cérebro se desenvolve, fica mais forte e isso o deixa mais preparado para a vida.
Mersine Miaoulis Baroufis, vice-diretora do Colégio Amorim (quarto colocado no handebol feminino do Mundial Escolar), de São Paulo (SP), concordou e ressaltou:
“A prática esportiva contribui efetivamente no desenvolvimento cognitivo do aluno, visto que desenvolve habilidades e mantém o condicionamento físico em ordem” e completou “quanto mais cedo se incia a prática da atividade física, melhor o desenvolvimento das capacidades criativas, práticas de executar uma ação desafiadora, importantes para o pedagógico do aluno em qualquer fase escolar”.
Os desportos em geral trazem muitos benefícios e os coletivos auxiliam ainda mais na formação dos jovens. Mersine disse que esportes, como o handebol, trazem o senso de colaboração, de competitividade, de ganhar e perder, o respeito “Noções básicas para a formação integral de crianças”, enfatizou.
Atletas escolares relatam como o handebol mudou suas vidas
Os atletas do Jovens Talentos, Patryck Menezes, de 18 anos, e João Luís, de 17 anos, comprovam os relatos dos especialistas.
Patryck contou que o esporte representa tudo em sua vida: “nem sei o que seria de mim se eu não tivesse conhecido o handebol”.
João Luís relatou: “o handebol é minha vida, pois foi ele quem me trouxe a vida, que me colocou dentro da sociedade. Foi ele que me ajudou na formação do meu caráter, da minha personalidade. Foi com suas regras e seus ensinamentos que me transformei na pessoa que sou. O handebol me ajudou a passar pela etapa mais difícil da minha vida e foi por ele que eu voltei a ter uma boa saúde e uma melhor expectativa de vida”.
Patryck falou que conheceu o handebol assim que foi aprovado para a 5ª série e “foi amor a primeira vista”. Ele ficou sabendo que a professora (Virgínia) estava montando uma equipe, pediu para treinar e está até hoje como atleta do time. Ele relatou que as aulas de educação física, no ensino fundamental, eram as suas preferidas, eram legais e ele amava participar dos campeonatos.
Perguntado sobre os benefícios do esporte em sua vida, Patryck, que já completou o ensino médio, relatou:
“bom não sei se isto é um beneficio, só que certamente me ajudou a não ser um drogado ou traficante, algo que aqui onde eu moro é bem comum. Me fez uma pessoa boa”.
João Luís contou que o handebol foi o esporte que mais o atraiu, em relação ao trabalho em equipe: “é um jogo que a todo momento nos testa emocionalmente e psicologicamente. Escolhi o handebol, pois foi o único esporte que foi capaz de tocar no meu íntimo, fazer me sentir feliz e realizado”, completou.
Ele relatou que conheceu o esporte na primeira aula. Dali em diante começou a fazer amigos e companheiros, começaram a treinar juntos e hoje o Jovens Talentos virou mais que uma grande equipe, virou uma grande família. Ao mesmo tempo, os familiares faziam parte e foram o incentivando a se desenvolver com a prática desportiva.
“Jamais eu vou esquecer essa família, e claro, a professora Virgínia que me fez virar esse jovem que eu sou hoje. Sou muito grato por ela me fazer perceber quem realmente sou”, enfatizou.
Entre os benefícios do esporte, o jovem, que cursa o primeiro ano do ensino médio, explicou a importância da manutenção da saúde: “uma vida só pode realmente ser realmente vivida na sua plenitude, quando se tem saúde. Condições de fazer tudo o que precisamos e desejamos em nossas vidas, com toda a disposição que nós é demandada”.
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